Hoje publicamos o quarto e quinto atos, mais o Exôdo.
E semana que vem teremos mais curiosidades e informações teatrais!
Acompanhem o nosso blog e boa leitura!
A Primeira Ceia
(Continuação do texto de Claudio Bernardi, com tradução de Claudia Venturi)
QUARTO PR-ATTO
SIMONAL – Meu Deus,
que desastre!
EVA – Chefe, vamos
arrumar tudo…
SIMONAL – Mas o
que você quer arrumar?
LEO – Não, nós
precisamos arrumar isso! Eu tenho que fazer a minha obra prima: a Primeira Ceia!
SIMONAL – Eu
tive uma ideia idiota com o Cenáculo, me desculpem.
EVA – Mas não! A
ideia é ótima. Ao contrário. Exatamente porque ficou claro que a ideia não funciona
entre nós e também não funciona a representação é que não precisamos imaginá-la,
mas realizá-la. Assim é o mundo. Este é o problema. E tem de haver uma solução.
LEO – O punho de
ferro! Agora “eu” vou arrumar tudo isto!
SIMONAL – Mas são
contratados?
LEO – Contratados?
SIMONAL – Você
está pagando?
LEO – Pagando? O
quê?
SIMONAL – A
eles, aos estilos alimentares.
LEO – Claro que
não. Ao contrário, eles deveriam me agradecer. Com a minha obra prima se
tornarão famosos.
ADÃO – Ahãm! Tô
sabendo!
EVA – Entendi porque
eles só fazem o que querem.
MARTA – Estão
errados vocês dois.
LEO – No quê? Na
imagem? No quadro? Na foto?
MARTA – Não, não,
vocês erraram ao tocar no problema dos problemas.
SIMONAL – E qual
é?
MARTA – A
alimentação. A alimentação é identitade. Cultural, religiosa, social, afettiva…
LEO – Não, a
alimentação é vida. A alimentação é arte, ciência, desejo, eros! A alimentação
é vida!
MARTA – Sim, mas
o íntimo da vida. Pessoal e coletiva. A alimentação une, mas também divide. Coloca
uns contra os outros.
ADÃO – Desde
pequenos. Imagina que a minha mãe queria que eu comesse verduras e eu as cuspia
todas.
EVA – A tua mãe?
(lhe dá um tabefe) A tua mãe!
ADÃO – (choramingando) Mas a sopa era horrível…
LEO – Precisamos
comer apenas aquilo que gostamos.
SIMONAL – Mesmo
se faz mal?
LEO – Para um “natureba”
tudo faz mal…
SIMONAL – Mas eu
me pergunto: existe um alimento bom, saudável e nutritivo?
DOUTOR – Stop! Vocês
estão procurando o alimento universal?
ADÃO – Não existe.
Quando o alimento é bom, faz mal. Quando faz bem, é ruim. Quando é nutritivo não
tem gosto de nada. Olha só: os veganos são amarelos como maracujás.
SIMONAL – Mas talvez
eles tenham razão. Por que matamos os animais?
LEO – Por que assim
também fazem os outros animais. É a cadeia alimentar. Todos os seres vivos se
nutrem uns dos outros.
ADÃO – O peixe grande
come o peixe pequeno
EVA – E o homem…
ADÃO – que é o
animal mais irracional entre todos
LEO – come tudo
de tudo. Ele está no topo da cadeia alimentar.
SIMONAL – Mas não
se deixa comer por outros homens…
LEO – Hoje, mas
há um tempo... Os canibais…
ADÃO – comiam a
vovó ao forno com bata… (Eva lhe dá um tabefe).
Mas é verdade!
SIMONAL – Mas agora
não somos mais canibais…
MARTA – É não,
somos ainda piores!
ADÃO – A vovó...
não!
EVA – Em que
sentido?
MARTA – Não no sentido carnal, mas no espiritual…
EVA – O que é
até pior.
MARTA – Sim,
passamos o tempo a nos dilacerarmos uns aos outros.
SIMONAL – Como aconteceu
aqui, agora há pouco…
DOUTOR – Senhoras,
senhores, poderiam me escutar? Eu, eu tenho a solução real. A ciência sempre tem
a solução, porque é o Caminho…
TODOS -…a verdade,
a vida.
LEO – Estamos
ouvindo, e qual seria a solução?
DOUTOR – A pílula.
ADÃO –
Anticoncepcional (leva outro tabefe de
Eva)
DOUTOR – Não. A
pílula alimentar. Ei-la (pega uma cartela)
Em cada uma destas pílulas tem tudo o que a energia humana necessita.
ADÃO – Ah não,
se tirar o gosto, as lasanhas da vovó, o churrasco, a canjica, o aroma do café,
a caipirinha…
ESFOMEADO – (do fundo) Estou com fomeeee!
DOUTOR – Mas não.
A pílula alimentar é revolucionária. Não sacia somente mas, graças aos seus
compostos químicos secretos desencadeia nas papilas gustativas todos os aromas,
os prazeres, os sentidos e as sensações que a pessoa deseja naquele momento.
EVA – Ah! Assim,
se eu tenho vontade de comer uma codorna…
ADÃO – A pílula
se transforma!
DOUTOR – Sim, é
mais ou menos isso, a pílula libera apenas os sabores desejados pela mente.
LEO – Estraordinário!
DOUTOR – Sim, a
pílula alimentar é o verdadeiro alimento saudável, bom, nutritivo, universal.
Com a pílula alimentar haverá a completa paz dos sentidos, do corpo, da família,
dos povos. Dará a paz ao mundo!
EVA – Mas dessa
forma o Senhor, doutor, manda às favas todos os que trabalham com a alimentação,
camponeses, chefs, doceiros, mas também o Senhor doutor que trabalha com a saúde, porque se é
verdade que estamos mal, 90% das vezes é culpa daquilo que comemos e da forma
como comemos…
DOUTOR –
Retrogrados! Imaginem o grande progresso que o mundo pode fazer com a pílula
alimentar. Não haverá mais fome no mundo. Não existirão mais disturbios
alimentares. As doenças…
ADÃO – A dor de
barriga e o cagalhão (tabefe de Eva)
DOUTOR – Não nos
cansaremos mais e seremos todos felizes e contentes no êxtase dos sentidos.
MARTA – Certo, em
casa não precisaremos mais de cozinha. Um cômodo a mais. Nada de lavar louças.
Preparar a refeição, arrumar a mesa, fazer compras… para nós, mulheres, seria
finalmente a libertação!
ADÃO – Mas uma pessoa se
prende pelo estômago ou por outra coisa.... Mas se aquela, a beleza, é passageira,
como pensam em se manter, eh?
EVA – Com esta!
(tabefe em Adão)
MARTA – Mas os
dentes, o estômago, o esôfago, isto é, praticamente o corpo inteiro, serviria
para quê?
LEO – Lindo, maravilhoso,
doutor. O Senhor encontrou aquilo que pode agradar a todos! Vamos senhores, todos
ao redor da mesa. Agora sim, temos a Primeira Ceia. O Senhor doutor coloque-se
ao centro e com as mãos unidas eleve a pílula alimentar, e todos os estilos
alimentares a olhem adorando. (organiza
de forma artistica a cena, ajustando as
poses dos diversos estilos alimentar)
MARTA – Que gênio!
A este doutor darão certamente o Nobel da Medicina…
EVA – Mas até mesmo
o da Paz…
SIMONAL – Com
licensa, doutor, mas como se chama esta pílula revolucionária?
DOUTOR – Manà!
SIMONAL – Como mana?
Irmã?
DOUTOR – Não.
Manà. É ingles científico. Uma palavra
composta da Man, que quer dizer Homem, e A que vem de Alimentation. Alimentação humana.
LEO – Extraordinário!
ESFOMEADO – Estou
com fome!
ADÃO – E agora
não vai mais sentir fome! Doutor, posso inserir na boca uma caixa toda de Manà?
LEO – Depois, depois.
Depois de minha obra prima.
SIMONAL – Estou
emocionado. Esta é realmente a Primeira Ceia. O alvorecer de um mundo novo de
paz, alegria, liberdade.
LEO – Não mais
violência, mas amor! Doutor, erga-a bem no alto a Manà. Isso! Parados todos!
Sorriam…
GEA – Ei! E eu aonde
eu fico?
LEO – Oh minha
cara, claro, desculpe, pode se colocar no lugar do doutor, não, coloque-se ali,
no último lugar, a direita….
GEA – O quê? Eu,
no último lugar?
LEO – Sim, sim,
sim! Vai lá! Bio mio, meu Deus! Gea, você me dá nos nervos.
ADÃO – Os nervosos…
LEO – Santa,
santissima que sa..., mas porque você sempre me enche o...
ADÃO – ovos no cesto…
LEO – O que
está acontecendo, Gea? Você foi mal na prova de anatomia? A tua mãe não te deu
carinho? O tuo pai te batia? O teu selênio está mais alto do que o normal? Mas
por que você precisa sempre me bater os ovos?
ADÃO – em neve.
EVA – (tabefe) Glacé.
GEA – Não, querido,
não estou absolutamente fora de mim. Como vovê pode ver estou calma. Calmíssima.
É que eu sou a Terra. Foi você mesmo quem disse, ou não?, que eu sou a Terra?
LEO – Sim, fui
eu quem falei, e agora?
GEA – E agora você
é um imbecil!
LEO – Imbecil, eu?
Leonardo D’Untempo, The new genius!
GEA – Sim, sim,
um super imbecil. Por que se eu sou a Terra, a Mãe de todos e de tudo, me coloque
no centro e não lá no fundo!
SIMONAL – Na
verdade, ela tem razão…
LEO – Tudo bem,
tudo bem, concordo. Vamos fazer assim: você,
fica no centro dos doze apóstolos alimentares e faz a elevação da Manà. Tudo
bem? Doutor, por favor, larga a Manà para que Gea possa pegá-la e se posicione no
último lugar.
DOUTOR – Eu no
último lugar? Nunca e nunca. Eu sou a Ciência e nem mesmo a Terra existiria sem
mim.
AVA – Mas doutor,
o Senhor estará sempre no centro com a sua invenção, a Manà!
DOUTOR – Não, está
ela, a amiguinha recomendada pelo diretor sabe se lá quantas vezes ele já a
colocou...
LEO – Espero
muitas, ela é a minha namorada!
AVA – Doutor,
me desculpe, mas na ciência não conta a pessoa, conta o resultado.
EVA – E depois o
Senhor não é assim tão bonito, seria uma Feia Ceia com a sua cara ao centro…
ADÃO – Se fosse
um alvo…
LEO – Bio mio,
bio mio, quantos problemas por nada.
EVA – Então, todos
querem aparecer, estar no centro e não de lado…
GEA – Mas não é
este o problema.
SIMONAL – E
qual é?
GEA – Eu
contesto!
LEO – De novo? Mas
você foi mordida por uma formiga?
GEA – Eu
contesto esta Manà, a pílula alimentar, o alimento universal. A comida igual para
todos.
ADÃO – Um alimento
comunista!
GEA – Não,
capitalista! O alimento das multinacionais, do capitalismo global, aquele que dá
lucros.
VEGANA – ao
qual somos todos submetidos.
VEGETARIANA – Tira
o trabalho dos camponeses.
FRUGÍVORA – É
contra a biodiversidade.
ABRAÃO – O desenvolvimento
sustentável.
DOUTOR – Mas o
que vocês estão falando?
TODOS OS ESTILOS
ALIMENTARES – (alternando-se nas falas
seguintes, circundano aos poucos o Doutor que se retrai, tenta ir embora e, no
final, foge seguido por todos) “Sim, doutor, você e a sua ciência, é um
vendido!” “Judas! Judas!” “Por dinheiro é capaz de vender a própria mãe!” “E no
entanto enganou a todos” “Ditador!” “Aproveitador” “Vocês, cientistas, são todos
mentirosos vendidos!” “Salafrários!” “Abaixo a ciência”, “Liberdade!” “Não
OGM”, “Abaixo a Manà!” “Peguem o Doutor!”
DOUTOR – Socooorrooooo!
Piedade! Querem me matar! Não sou o seu bode expiatório! (foge seguido pelos doze enlouquecidos, inclusive Gea e depois Ava. Saem
de cena)
AVA – Senhoreeesss,
vooooltem…
LEO – Paareeem,
tenho que fazer a minha Primeira Ceiaaaaaa….
SIMONAL – (a Eva, Marta e Adão) Ok, hoje realmente
não é o dia…
EVA – Chefe, o
que faremos com eles? (indica os comensais)
SIMONAL – Ah,
meu Deus, já estava me esquecendo. Em breve, serviremos o segundo prato…
(programa do espetáculo na Itália)
QUINTO PR-ATTO
Apagam-se todas as luzes da sala para obter um
ambiente o mais escuro possível. Entra em cena a mulher que se nutre só de luz
(Lucia) com uma longa tunica branca e com uma luz acesa nas mãos. Por todo o ato
Lucia acenderá lâmpadas e velas deslocadas sobre mesas e em diversos pontos do
espaço e as entregará um por um a todos os estilos alimentares e aos outros
atores que reaparecerão pouco a pouco na
sala.
LEO – Quem é essa?
AVA – A mulher que
se nutre só de luz.
ADÃO – Não é
possível! Não existe isso!
AVA – Sim, existe.
Pode se informar.
EVA – E não come
nada?
AVA – Isso
mesmo, se nutre apenas da luz do sol.
ADÃO – Ela deve
ser bem bronzeada.
EVA – E é saudável?
AVA – Como um
peixe.
LEO – Mas o que
ela veio fazer aqui?
AVA – Não tenho
a menor ideia.
SIMONAL – Eu
tenho.
LEO – Foi você
que a chamou?
ADÃO – Terá
sido enviada pela Bio.
SIMONAL –Bio não, por Deus.
ADÃO E EVA – Não,
Bio.
SIMONAL – Bio ou
Deus não importa. Só sei que tem algo que não está certo no que eu fiz.
LEO – Mas do que
você está falando Simonal? O que é que tem de errado com a nossa ideia de fazer
a Primeira Ceia? (escuta-se o canto de um
galo).
SIMONAL – Ouviram?
Um galo. Mais uma vez eu o reneguei.
EVA – Mas quem?
SIMONAL – Eu
disse e jurei que não o conhecia. Que nunca o vi, nem ouvi. Eu, o seu sucessor.
ADÃO – Mas de quem
você está falando?
EVA – Dele…
ADÃO – Dele
quem?
SIMONAL – Naquela
noite, aquela ceia, o que exatamente aconteceu? (de varias partes os atores giram entre o público, recordando A Última
Ceia. Todos com tochas nas mãos que acendem enquanto falam e apagam quando eles
se calam)
MARTA – Então
pegou o pão, o partiu e o deu aos seus discípulos dizendo: “Este é o meu corpo”.
ABRAÃO – Então
pegou o cálice, encheu com um bom vinho, e disse: “Tomai e bebei, este é o meu
sangue”.
SIMONAL – Vos
dou para a salvação e a saúde de todos nós.
VEGETERIANA – Ele
sabia que aquela seria a última ceia com os seus amigos.
FRUGÍVORA – Disse
que queria celebrar a Pásqua com eles.
VEGANA – Mas por
que não queria o cordeiro assado como era de costume?
ISMAEL – Não queria
carne. Escolheu os vegetais. A farinha do pão. A uva do vinho.
ESFOMEADO – O
fruto do trabalho do homem.
DOUTOR – Ele
queria mudar. Sabia que no início o alimento vinha do sacrifício de tantos
animais.
ONÍVORO – E talvez
soubesse que o primeiro banquete, a primeira ceia, era de carne de homens sacrificados.
CARNÍVORO – Dos
quais os corpos assados vinham compartilhados.
CRUDÍVORO – É o
canibalismo antigo narrado pelos mitos.
CELÍACA – O
sacrifício humano.
GULOSA – Superado
pelo povo eleito, quando Abraão retirou a mão e a faca do seu filho Isac.
GEA – E um anjo
o indicou um carneiro em substituição.
MARTA – Mas até
mesmo essa substituição ele quer superar.
VEGANA – Ele
queria substituir a carne de qualquer animal.
CARNÍVORO – Mas
sem violar a libertdade de cada um.
ONÍVORO – O
princípio de que podemos comer tudo.
VEGETARIANA – Sim,
mas mesmo que tudo seja lícito, nem tudo é bom
FRUGÍVORA – ou
saudável.
SIMONAL – Mas ele,
não buscava o alimento bom, saudável e nutritivo.
MARTA – Queria
nos deixar algo de mais profundo.
GEA – Não só de
pão vive o homem.
LEO – Há uma
relação muito tênue entre o alimento e as pessoas.
EVA – Entre alimento
e paz.
ADÃO – Entre alimento
e opressão.
CRUDÍVORO – Entre
alimento e vida.
CARNÍVORO – Pessoal
e social.
ESFOMEADO – O
que ele queria é que nenhum alimento fosse fruto de assaltos, violência, guerras,
destruição. É um enorme sacrifício humano privar os povos devido a fome cruel de
dinheiro e poder. E loucamente passar da distruição dos outros até a autodestruição.
GEA – Até a
morte da terra, do mar, do céu.
ISMAEL – O
problema ontem, hoje e amanhã é sempre o mesmo: como salvar o homem de si mesmo?
SIMONAL – Ele buscava
um alimento que nutrisse, mas não matasse.
ABRAÃO – Um alimento
que não corrompesse e não se corrompesse.
ADÃO – Que não nos
fizesse mal.
SIMONAL – Então,
um alimento eterno, espiritual.
EVA – Que pudesse
unir os homens, as suas culturas, os seus estilos alimentares, como agora nós…
CRUDÍVORO – Sonhava?
ONÍVORO – Não,
nunca será possível que todos os homens…
GULOSA – Mas até
isso ele sabia.
MARTA – E não foi
por acaso que naquela ceia estivesse presente exatamente quem o traiu por dinheiro.
SIMONAL – E eu em
todas as Últimas ceias sou representado com uma faca nas mãos. Para lembrar que
naquele local, quando vieram para capturá-lo, eu pensava, como todos, que só com
a força e com a espada se pode defender e haver justiça. E estarmos juntos…
EVA – Mas não
vamos nos esquecer dos seus outros amigos, os apóstolos.
ADÃO – Escaparam
todos, os infames.
AVA – E o que
nós faremos agora? Fugimos de tudo, por medo. Não queremos ver nada, pensar nada,
fazer nada…
ADÃO – SOS!
SOS! Salve-se quem puder!
CELÍACA – Não,
não. Salvem as nossas almas.
GEA – Existe uma
particularidade a ser observada naquela última ceia. Não tinham mulheres.
AVA – E até
isto ele sabia.
ADÃO – O que
ele sabia?
EVA – Que a cruel
espécie humana é cruel porque se dividiu entre masculino e feminino. Ele o patrão, ela a serva.
MARTA – Contra
a criação. Deus não criou o homem, mas os criou macho e fêmea.
GULOSA – Para o
encontro, a relação.
VEGETARIANA – Na
cruz por causa disso concedeu ao jovem homem, João, à mãe.
FRUGÍVORA – E as
mulheres foram as primeiras testemunhas da sua resurreição.
VEGANA – Queria
o fim da faca, do sangue versado, da violência, do nosso choro, de cada execução.
CRUDÍVORO – O alimento
mortal do mundo daquele tempo.
ONÍVORO – E de hoje,
ainda.
CELÍACA – Fez
também mais uma coisa para mudar o poder e salvar a carne.
SIMONAL – Ele,
Deus, o rei lavou os pés dos seus como se fosse um servo. E disse: “Lavem os pés
uns dos outros.” Isto é sirvam-se uns aos outros. E quem tem mais poder, sirva
mais do que todos os outros.
DOUTOR – Os cientistas,
os professores, para a saúde de muitos e não para o benefício de poucos que os
pagam deveriam ser os primeiros a criar, inventar, estudar, ensinar…
ABRAÃO – Mas o
terceiro pilar daquela noite foi o mandamento, a nova lei que diz: “Amai-vos uns
aos outros como eu vos amei”. E deu tudo ele mesmo.
ESFOMEADO – Luz
da luz…
MARTA – Pão do
céu… como o sol…
EVA – Nos nutre
o amor.
SIMONAL – Mas
se foi assim, aquela não foi então a Última Ceia. Não. Foi a primeira. A primeira
verdadeira Ceia.
ADÃO – A Ceia de
Primavera!
(todos os estilos alimentares, pouco a puoco,
aproximam-se da mesa do cenáculo e compoem o Cenáculo de pentecostes com Gea ao
centro, mas tendo sobre a cabeça as mãos de Lucia que erguem a luz e todos os estilos
alimentares têm uma vela consigo)
LEO – Perfeito!
Perfeito! Todos parados! Esta, esta sim é a Primeira Ceia! (flash, música apropriada, e então se acendem
as luzes)
ADÃO – Dulcis
in fundo! (todos começam a servir os
comensais)
Vem servidos os doces
(programa do espetáculo na Itália)
EXÔDO
SIMONAL – Caros
amios, obrigado por terem vindo.
ADÃO – Por
terem resistido.
SIMONAL – O meu
experimento fracassou. Não farei nenhum restaurante nem cenáculo.
MARTA – Esperamos
apenas que aquilo que demos aqui os tenha agradado.
SIMONAL – Se não
os agradou, pedimos que nos perdoem. Eu sonhava com um pequeno evento ou, pelo
menos, um forte momento no qual o nosso pequeno mundo se escancarasse. Sonhava com
um fogo que tivesse nos aquecido. Uma luz que nos teria iluminado. Algo de belo
para nos recordarmos.
MARTA – O espetáculo-ceia
acabou.
EVA – Nos despedimos
com o desejo de que, de alguma forma, esta pequena semente que plantamos no coração
e na mente, cresça e dê frutos maiores do que imaginamos.
SIMONAL – Isso
e não apenas. Daquela primeira ceia aconteceram tantas outras ceias, com desilusões,
mortos, traições. Não estamos ainda em um mundo perfeito, mas muita coisa já
mudou no homem.
MARTA – Ainda
temos muito o que fazer, para que se aproximem todos do refeitório daquele magnífico
mundo que é a criação, repleto de frutas e de tantas delícias
EVA – De irmãos
e amigos
SIMONAL – Juntos
e felizes para o sol do pão
ADÃO - e a jóia
do vinho!
MARTA –
Realizar todos os dias a verdadeira ceia agora é tarefa de vocês!
EVA – Mas também
nossa, depois de hoje. Obrigada amigos.
SIMONAL – Tin Tin
ao alimento verdadeiro, que quanto mais nos nutre mais o queremos.
MARTA – O
alimento infinito da luz, o único alimento que dá vida e não morre.
EVA – O amor.
Fim
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