Eis que, durante a Semana Performática realizada pela UDESC neste ano, tive a oportunidade de participar de uma oficina bem intensa, ministrada por um ator e diretor ainda jovem e competente, sobre uma técnica que ainda é pouco estudada no Brasil.
O ator se chama Fabiano Lodi e se formou em Artes Cênicas pela UDESC, tem mestrado pela Unesp e foi premiado com Bolsa do Ministério da Cultura para participar de atividades teatrais coordenadas pela SITI Company, Nova York. Entre 2006 e 2008 integra a equipe responsável pela tradução do livro "The Viewpoints Book", de Anne Bogart.
Aproveitando a oportunidade, perguntei sobre a possibilidade de publicar aqui no Círculo Artístico Teodora um artigo de sua autoria sobre o Método Suzuki, então ele nos enviou o artigo abaixo, que foi publicado no Periódico de Artes Cênicas RASCUNHO, Uberlândia, v.1 n. 2 p. 37-46 / de Dezembro de 2014
PRÁTICA ARTÍSTICA CONTINUADA NA SITI COMPANY
Reflexões sobre treinamento e direção teatral na perspectiva de Anne Bogart
Fabiano Lodi[i]
Resumo
Neste texto serão estabelecidas
relações entre o conceito de treinamento, como uma prática específica que diz
respeito ao trabalho de ator/atriz, e o discurso de Anne Bogart para a arte da
direção teatral na SITI Company. Nosso intuito consiste em analisar a
articulação do discurso de Bogart para a arte da direção teatral, a partir de
uma específica combinação de três distintas técnicas de treinamento, tal como
estabelecido na SITI Company. Levantamos, ainda, uma reflexão relacionada à
possibilidade de haver, nessa combinação de treinamentos, uma prática
específica que compreenda procedimentos próprios de direção teatral.
1. Introdução
A análise realizada nesse artigo
pretende desencadear reflexões sobre a prática da direção teatral, a partir da
experiência artística de Anne Bogart no Instituto Internacional de Teatro de
Saratoga (Saratoga International Theatre Institute), também conhecida como SITI
Company. Apontamos a articulação entre o conceito de treinamento,
historicamente ligada ao ofício de ator/atriz, à prática de direção teatral,
observando como essas duas instâncias suscitam um modo particular de produção
teatral na SITI Company. Conferimos destaque às três distintas técnicas
teatrais combinadas por Bogart no treinamento da SITI Company: Método Suzuki,
Viewpoints e Composição. Apontamos haver, nessa combinação, atribuições que
indicam a possível ocorrência de um treinamento em direção teatral na SITI
Company.
Frente à histórica referência do
termo treinamento ligado a práticas próprias de ator/atriz, denominamos aqui a
combinação de técnicas teatrais na SITI Company como uma prática artística
continuada. E o fazemos mediante os indícios que nos levam a compreender que o
conceito de treinamento na SITI Company envolve as artes de ator/atriz e de diretor/diretora;
uma prática artística que se pretende em regular continuidade almejando o
imbricamento de ambas as abordagens.
Apresentamos características
básicas da prática artística continuada na SITI Company buscando identificar de
que modo as ideologias associadas a essas técnicas teatrais favorecem a
compreensão de CUMMINGS (2005) ao qualificar Bogart como uma diretora teatral
não autoritária. Afirmações semelhantes podem ser encontradas sem dificuldades,
especialmente na bibliografia consultada para esse estudo. Isso pode ocorrer
tendo em vista que Bogart apresenta uma alternativa ao modus operandi
consolidado como padrão de produção teatral – aquele em que se configura uma
hierarquia na relação entre ator/atriz e diretor/diretora. Tal hierarquia posiciona
o diretor/a diretora em um lugar destacado, que lhe confere relevante poder de
decisão. A ruptura com essa tradicional hierarquia, mediada por uma prática
artística continuada consiste em um dos elementos principais do discurso de
Bogart para a arte da direção teatral.
2. Treinamento de atores; Discursos de diretores
HODGE (2000) observa que o
diretor[ii]
teatral se estabeleceu como figura central do processo criativo ao longo do
século XX. Fatores importantes relacionados a essa afirmação incluem a explícita
responsabilidade que lhes cabia sobre o resultado final de uma obra, bem como
sobre a elaboração de uma harmoniosa unidade estética de elementos articulados
na cena. O surgimento das escolas de formação para artistas de teatro –
lideradas essencialmente por diretores – bem como a entrada dos estudos
teatrais nas universidades são fenômenos que concernem a este momento histórico
e que se prestaram a consolidar a hegemonia do diretor.
Neste período, de acordo com
FÉRAL (2000), verifica-se a ocorrência de diretores teatrais atribuindo aos
atores noções de treinamento, como uma pedagogia completa e necessária ao pleno
desenvolvimento do corpo/espírito/caráter. Por sua vez, SAVARESE (1995) aponta
para um movimento, constituído essencialmente por atores europeus, cuja reação
aos conservatórios e escolas de teatro deu origem a laboratórios de pesquisa
teatral, onde também se investigava noções de treinamento, sem considerar
necessariamente os mesmos pressupostos estabelecidos nas instituições
tradicionais.
Livros, apostilas, cursos e registros
informais de trabalho formam uma ampla gama de referências disponíveis sobre os
mais variados discursos ligados ao fazer teatral. Nelas verificamos
possibilidades de criação nas mais distintas realidades. Destacamos aqui três
das características principais identificadas como procedimentos recorrentes
nesse contexto: o estabelecimento de uma hierarquia que determina os modos de
produção artística; a valorização do coletivo artístico como organismo criador
em um regime de mútua colaboração; e a defesa por um permanente treinamento que
articula saberes transmitidos pelos Mestres. A autoria desta produção artística
e reflexiva resulta do legado de artistas consolidados no segmento da direção
teatral, bem como aos estudiosos de suas trajetórias, a exemplo de Jerzy
Grotowski, Eugenio Barba, Tadashi Suzuki, Antunes Filho, Jacques Lecoq, Jacques
Copeau entre outros.
Foi no ensejo desta discussão que
no início da década de 1990, mais precisamente em 1992, a diretora teatral
Anne Bogart fundou, nos Estados Unidos e com a colaboração do diretor teatral
japonês Tadashi Suzuki, a SITI Company. O interesse manifestado por essa
companhia tornaria estável uma prática artística por meio da qual fosse
possível criar obras teatrais. E difundiria essa prática como procedimento de
trabalho criativo em teatro, oferecendo cursos que pudessem contar com a
participação de artistas de diferentes países.
Ao longo dos mais de vinte anos
de atividades na SITI Company, Bogart permanece sustentando um trabalho
artístico que questiona padrões convencionais que orientam as relações entre
artistas de teatro. Isso inclui sua proposta de uma abordagem alternativa
sobretudo para a arte de ator/atriz e sua relação com as competências
artísticas do diretor/da diretora teatral. Esse padrão está ligado, segundo
Bogart (apud LAMPE, 1997, p. 107) à predominância do realismo psicológico nas
encenações teatrais dos Estados Unidos, fruto de uma formação artística cuja
origem remonta a uma má apropriação do sistema Stanislavski, ancorado no método
de Lee Strasberg “irremediavelmente antiquado para teatro”.
Nesse contexto, prevalecem duas
hipóteses sobre as quais a prática artística continuada proposta por Bogart na
SITI Company promove uma ruptura com o padrão convencional. A primeira delas,
relacionada ao trabalho de ator/atriz, tem a ver com uma crença habitual de que
o ator/a atriz deve agir movido/movida por uma emoção particular. Em relação a
isso, BOGART e LANDAU (2005[iii]
, p. 15) acreditam que “forçar uma emoção particular tira o ator da simples
tarefa de executar uma ação, e através disso distancia os atores uns dos outros
e da plateia”. Outra hipótese tem a ver com uma configuração diferenciada na
hierarquia ator/atriz-diretor/diretora, favorecida pela combinação de
treinamentos que os posiciona sob um regime de mútua colaboração. Bogart
recorrentemente atribui essa característica aos processos criativos dos quais
participa como diretora, evitando associar a sua atividade artística ao
estabelecimento de uma visão unilateral, sobre a qual atores/atrizes devam
buscar aprovação.
Eu não estou prevendo um modo como o diretor deve ser, apenas estou refinando o que posso fazer de melhor, que é atuar como um facilitador. [...] Se eu tenho um talento, é que eu sou capaz de concentrar as visões das outras pessoas. Qualquer um que trabalhou comigo vai dizer que eu não digo para ninguém o que fazer. [...] E então eu sempre ouço: 'Ah, a visão de Anne'. Eu não tenho uma visão. Tenho valores, talvez.[iv]
3. Sobre as técnicas de treinamentos combinadas na prática artística continuada da SITI Company
Bogart consolidou como prática
artística continuada da SITI Company uma combinação de treinamentos, os quais
remetem às parcerias firmadas por ela junto a importantes nomes das artes cênicas
e com destacada atuação nos Estados Unidos. Essa combinação de treinamentos se
vale de três distintas práticas, que, de acordo com NUNES (2009, p. 240):
[...] envolvem aspectos da tradição teatral no oriente e ocidente, voltadas à relação entre ator e diretor em seus processos de criação. Seus pressupostos são uma alternativa aos modelos tradicionais de atuação e direção, permitindo o surgimento de ações cênicas a partir de situações físicas e vocais baseadas na consciência do estado do corpo, no espaço e tempo presente e não somente por intenções psicológicas pré-concebidas.
Abaixo, descreveremos brevemente
aspectos relacionados a cada uma das três práticas combinadas no treinamento da
SITI Company e como essas práticas determinam os parâmetros do trabalho de
ator/atriz, de diretor/diretora, e as condutas de realização artística.
3.1 Método Suzuki de Treinamento de Atores
Apresentando elementos vistos nas
artes marciais, danças clássicas e nos tradicionais teatros japoneses Noh e
Kabuki, o Método Suzuki resulta em uma gramática de movimentos denominada de
Gramática dos Pés. A execução dos exercícios pressupõe uma relação de
aprofundamento das sensações do corpo humano, por meio de um intenso despertar
de energias destinadas a engajar um efetivo contato dos pés com o chão.
Alguns dos movimentos são
pontuados por um golpe denominado stomp, principal elemento do Método Suzuki.
Consiste em bater os pés no chão vigorosa e alternadamente. Para SUZUKI (2002,
p. 155), esta ação evoca uma sensibilidade básica que deve ser desenvolvida
pelos atores/atrizes, como uma “hipótese operacional” capaz de tornarem
efetivas as imagens as quais se empenham em criar.
Os exercícios que compõe o método são
denominados por Carruthers e Yasunari (2007) de disciplinas de atuação.
Trata-se de um termo traduzido do Kanji 訓練, ou ainda,
em alfabeto japonês Katakana トレーニング. A transliteração
para o alfabeto da língua portuguesa equivale, respectivamente, a Kunren
(leia-se Kuunen) e Torēningu (leia-se Toreeningu). O significado literal de
Kunren e Torēningu é treinamento. Sucessivas traduções destas terminologias
culminaram por caracterizar especialmente Kunren como uma atividade diferenciada
das noções tradicionais de treinamento, no contexto de uma prática própria de
atores/atrizes. No entanto, remete ao mesmo sentido de treinamento abordado
neste artigo e relacionado à prática teatral.
As disciplinas de atuação
enfatizam diferentes maneiras com as quais os pés desencadeiam um contato
particular com o chão. Em algumas dessas disciplinas, músicas e/ou comandos
sonoros realizados pelo instrutor/pela instrutora são utilizados como recurso
auxiliar, destinado a conferir um ritmo aos movimentos, assim como um tempo e a
duração da sustentação de posições corporais em imobilidade.
SUZUKI (2002, p. 155) adota tais
procedimentos com o intuito de fazerem emergir níveis de expressividade
corporal cuja assimilação se revele ao ator/à atriz como um segundo instinto.
Pretende viabilizar não somente a sensação de se estar em estado de ficção no
palco mas, sobretudo, enfatizar o trabalho de ação vocal no teatro.
Tecnicamente falando, meu método consiste em um treinamento para aprender a falar poderosamente e com clara articulação e também aprender a fazer o corpo todo falar, mesmo quando este permanece em silêncio. Desta forma, o ator pode aprender a melhor maneira de existir no palco. Ao aplicar este método, quero tornar possível para atores desenvolverem suas habilidades físicas expressivas e nutrir uma tenacidade na concentração.
3.2 Viewpoints
Viewpoints é um conjunto de nomenclaturas destinado à criação de um
vocabulário que favoreça um entendimento comum a princípios de movimentos
cênicos. O mesmo nome é utilizado para se referir a uma prática de improvisação
radicalmente fundamentada na ideia de autonomia, em que essas nomenclaturas são
empregadas. Origina-se do contato de Anne Bogart com a técnica dos Seis pontos
de vista (Six Viewpoints), criada na década de 1970 nos Estados Unidos pela
coreógrafa Mary Overlie. O intuito era apresentar uma abordagem alternativa aos
padrões vigentes de criação em dança naquele período.[v]
Inspirada pelas inovações apresentadas por
meio dos Six Viewpoints, especialmente pela capacidade potencial de gerar novos
trabalhos de forma colaborativa e eficiente, BOGART e LANDAU (2005, p. 05)
deram início a uma extensiva investigação sobre a aplicabilidade dos princípios
presentes na técnica de Overlie “para criar momentos visceralmente dinâmicos no
teatro com atores e outros colaboradores”.
Mary Overlie organizou seis
viewpoints em sua técnica: Tempo (Time), Espaço (Space), Forma (Shape),
Movimento (Movement), Emoção (Emotion) e História (Story). No curso de suas
experimentações, Bogart e Landau redefiniram e expandiram as nomenclaturas
cunhadas por Overlie, criando quatorze viewpoints,
assim divididos: Viewpoints Físicos –
compreendidos pelos Viewpoints de
Tempo, Viewpoints de Espaço e Viewpoints de Tempo-e-Espaço – e Viewpoints Vocais.
·
Viewpoints de Tempo: Andamento (Tempo), Duração (Duration) e Resposta
Cinestésica (Kinesthetic Response);
·
Viewpoints de Espaço: Relação
Espacial (Spatial Relationship), Arquitetura (Architecture) e Forma (Shape);
·
Viewpoints de Tempo-e-Espaço: Gesto
(Gesture), Topografia (Topography) e Repetição (Repetition);
·
Viewpoints Vocais[vi]
: Altura (Pitch), Dinâmica (Dynamic), Aceleração-Desaceleração
(Acceleration-Deceleration), Timbre (Timbre) e Silêncio (Silence).
3.3 Composição
Composição viabiliza a
estruturação de resultados artísticos cênicos, seja uma cena aleatória, uma
peça curta, uma performance, coreografia etc. Trata-se de uma metodologia para
criação de novos trabalhos. Uma escrita teatral colaborativa. Tarefas específicas
relacionadas a uma temática que se pretende abordar são experimentadas pelos
artistas envolvidos na criação. Incentiva a assimilação prática de materiais,
imagens e intuições diversas surgidas, ou não, ao longo da prática artística
continuada. Composição estabelece um espaço próprio para esboçar ideias
rapidamente e mostrá-las cenicamente, torná-las ações concretas. O objetivo
consiste em engajar todos os envolvidos/todas as envolvidas no processo
criativo em um desafio de justapor elementos variados em cena.
O termo Composição, familiar ao
universo da música e da dança, remete – neste caso – ao trabalho da coreógrafa
Aileen Passloff. Na década de 1970, Passloff foi professora de Bogart em
Annandale-on-Hudson, cidade próxima a Nova York e onde está localizado o campus
da Bard College: universidade em que Bogart concluiu o bacharelado em Artes.
Trata-se da primeira experiência com a qual Bogart teve contato, dentre as três
técnicas que combinou na prática artística continuada da SITI Company.
Segundo LANDAU (1995) essa abordagem culmina
na geração, definição e desenvolvimento de um vocabulário teatral para ser
articulado em uma determinada produção. Estabelece a relação entre a prática da
Composição ligada ao ofício de direção teatral, assim como a prática dos
Viewpoints e do Método Suzuki dizem respeito ao ofício da arte de ator/atriz.
Convém ressaltar, entretanto, que essa afirmação não segrega as práticas de
atuação e direção no treinamento da SITI Company. A prática artística
continuada da SITI Company contempla não somente um fazer artístico separado
por habilidades. Incentiva, especialmente, o compartilhamento sobre a autoria
de uma obra. Verifica-se, assim, o interesse por um processo colaborativo de
criação teatral.
4. Composição: uma possível técnica de treinamento em direção teatral?
Vinculada à experimentação de
proposições cênicas imaginadas, estruturantes de um todo em elaboração,
observamos haver a possibilidade de compreendermos a Composição como uma
técnica que diz respeito à arte da direção teatral na SITI Company.
Aos/Às artistas que exercem essa
arte cabe o ato de, muitas vezes, tomar decisões que constituirão uma obra
cênica como tal. Composição configura as relações artísticas de modo que esse
poder não seja exercido, exclusivamente, pelo diretor/pela diretora. Assim
posto, Composição nos sugere a descentralização de decisões convencionalmente
ancoradas na figura do diretor/da diretora, reforçando o caráter colaborativo
dessa metodologia.
Paradoxalmente, ao passo em que
instaura modos alternativos para o fazer teatral, Bogart dá continuidade à
liderança que se atribui ao diretor/à diretora enquanto agente responsável por
mensurar parâmetros da arte de ator/atriz, bem como as condições em que
esses/essas artistas mediarão suas relações. E mantém, nesse caso, a
reconhecida influência do diretor/da diretora teatral sobre o emprego de um
treinamento para atores/atrizes. Segundo o relato de ZINN (2011, s/p) “é
difícil não concluir que o ator é algo como um jogador secundário nas criações
de Anne Bogart. [...] Ela domina a produção com suas ideias, sua coreografia e
sua mis-en-scène, cheia de gestos e formas fortes”. [vii]
5. Considerações Finais
Características singulares que
envolvem as relações entre atores/atrizes-diretores/diretoras descortinam a
complexidade própria das relações humanas, tornando acentuadas as tentativas de
se encontrar uma poética para essa relação. A contribuição de Bogart, neste
sentido, é significativa. O amplo repertório de sua produção artística e
reflexiva ao longo de sua trajetória na SITI Company são os meios pelos quais
faz da arte teatral uma prática viva e interessante.
Constatamos o alcance e a
influência de suas reflexões, de acordo com CUMMINGS (2005, p. 217), pelo
reconhecimento internacional de Bogart como uma “diretora inovadora, com
interesses ecléticos e uma dedicada professora que mudou o curso da formação
teatral nos Estados Unidos”. Complementa sua colocação, salientando:
[...] por meio de sua liderança casual e rigorosa qualidade de sua atenção, Bogart cria um espaço de trabalho em que outros [colaboradores] possam criar, o que facilita sua reputação como uma norteadora, uma diretora não-autoritária.[viii]
Os diferentes pontos de vista
relacionados ao discurso de Bogart para a arte da direção teatral cotejados
nesse artigo nos indicam que essa discussão solicita continuidade e
desdobramento. Prestamos aqui nossa contribuição nesse sentido. Apoiados nas
prerrogativas da Composição, compreendemos a prática artística continuada na
SITI Company como possibilidade para instaurar um diálogo entre os meios que
viabilizam o fazer teatral contemporâneo e as reflexões que a prática suscita.
Para BOGART e LANDAU (2005, p. 153) “uma oportunidade para esboçar ideias no
tempo e no espaço, olhar para elas, responder e criticá-las, e refinar ou
definir novas direções”.
Referências
BOGART, Anne; LANDAU, Tina. The Viewpoints Book: A Practical Guide to
Viewpoints and Composition. New York: Theatre Communications Group, 2005.
CARRUTHERS,
Ian; YASUNARI, Takahashi. The Theatre of Tadashi Suzuki. 1st Edition.
Cambridge: Cambridge University Press, 2007.
CUMMINGS,
Scott T. Anne Bogart. In: MITTER, Shomit; SHEVTSOVA, Maria (Ed.). Fifty Key
Theatre Directors. New York: Routledge, 2005, p. 217-222.
FÉRAL, Josette. Você disse training? In: BARBA, Eugenio et alii, p. 7-27. Le
training de l´acteur [O training do ator]. Arles/Paris: Actes
Sud-Papiers/Conservatoire National Supérieur d´Art Dramatique, 2000. –Tradução
não publicada de José Ronaldo Faleiro.
HODGE,
Alison. Twentieth Century Actor Training. London: Routledge, 2000.
LAMPE,
Eelka. Disruptions in Representation: Anne Bogart´s Creative Encounter with
East Asian Performance Traditions. In: Theatre Research International. Volume
22:2, Summer 1997, pp. 105-110.
LANDAU,
Tina. Source-Work, The Viewpoints and Composition: What are They? In: Anne
BOGART: Viewpoints. Edited by Michael Dixon and Joel A. Smith. Lyme, New
Hampshire: Smith and Kraus Inc, 1995, p. 13-30.
NUNES,
Sandra Meyer. As metáforas do corpo em cena. São Paulo: Editora
Annablume/UDESC, 2009.
SAVARESE, Nicola. O treinamento e o ponto de partida. In: A
arte secreta do ator: dicionário de antropologia teatral. Tradução de Luís
Otávio Burnier. Campinas: Hucitec, 1995, p. 293-299.
SUZUKI, Tadashi.
Culture is the Body. In: ZARRILLI, Phillip B. Acting (Re)Considered: A
Theoretical and Practical Guide. 2nd edition. London: Routledge, 2002,
p. 155-160.
ISSN: 2358-3703 Rascunhos Uberlândia v. 1 n. 2 p. 37-46
jul.|dez. 2014
http://www.seer.ufu.br/index.php/rascunhos/article/view/28687/15977
[i]
Instituição: Instituto de Artes (IA) da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP). Tipo de vínculo: Mestrando. Estágio de Pesquisa: em
andamento. Área de estudos: Artes-Teatro. Orientador: Professor Dr. José Manuel
Lázaro. Bolsa de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP). Atuação profissional: Diretor teatral.
[ii]
As obras consultadas no idioma inglês e sem tradução para o português
apresentarão o predomínio do masculino. À parte as características do idioma
inglês em que não se diferencia “diretor” de “diretora”, por exemplo,
verificamos não haver qualquer citação sobre diretoras teatrais no contexto
histórico da relação entre treinamento e direção teatral.
[iii]
Todas as citações desta obra foram traduzidas com colaboração do autor deste
artigo, que é integrante da equipe de tradução deste livro para o português –
projeto em curso, sob responsabilidade da Editora Perspectiva, de São Paulo/SP.
[iv]
Entrevista concedida a Daniel Mufson disponível em , acesso em 28 de setembro
de 2013.
[v]
Informações adicionais sobre a técnica Six Viewpoints, o contexto em que surgiu
e outros conteúdos relacionados podem ser conferidos no endereço eletrônico: .
[vi]
Podemos afirmar não haver consenso entre os/as artistas da SITI Company sobre
quais são exatamente os viewpoints vocais, bem como de que modo são articulados
no treinamento vocal da companhia.
[vii] ZINN, Jeff. Beyond Stanislavski:
The Post Moderns. Disponível em , acesso em 21 de março de 2013.
[viii]
Idem, p. 219.
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