sexta-feira, 25 de setembro de 2015

LA BELLA POLENTA - O Processo

La Bella Polenta – Ideia e Processo

por Claudia Venturi


Nosso Cartaz, na versão com ficha técnica,
belamente elaborado por Paulo Wolf.

Muitas vezes ficamos curiosos para compreender de onde surgiu uma ideia, como foi determinado processo de montagem e assim por diante.

O Círculo Artístico Teodora apresentará três de seus espetáculos no mês de outubro – dois antigos e uma estreia – então resolvemos aproveitar a ocasião para falar sobre os processos de montagem, iniciando por LA BELLA POLENTA.


Cristina Lopes - Foto de Paulo Wolf - 2013
A ideia do espetáculo surgiu com Cristina Lopes, ainda em 2010, que entrou em contato comigo. Começamos a amadurecer a ideia e, juntas, criamos essa deliciosa aventura Ítalo Brasileira, que estreiou 3 anos após o primeiro contato.

Cristina, narradora oral que trabalhou muito pelos palcos do Brasil, também como atriz e bonequeira, lembra com carinho como teve a ideia que deu origem a esse encontro bi cultural:

Então, por uma surpresa do destino, encontrei uma moça que tinha chegado da Itália recentemente e pensei nas lindas historias recolhidas pelo grande escritor Italo Calvino, contos estes que me encantavam há muito tempo... Na hora me veio a vontade de criar um espetáculo bilíngue que pudesse viajar por muitos lugares, recuperando vínculos e memórias. De repente a moça que encontrei, grande atriz talentosa, pensou que poderíamos viajar também no tempo...”

Claudia Venturi - Foto Paulo Wolf - 2013
No momento eu tinha recém retornado da Itália, país no qual estudei e residi por dois anos, e estava me readaptando ao ritmo cultural da cidade. Conheci Cristina em um projeto de oficinas de arte no interior do estado, promovido pela Fundação Catarinense de Cultura e tivemos oportunidade de conversar bastante, entre uma viagem e outra. A proposta era a de criar um espetáculo que unisse duas linguagens – as narrativas orais e o teatro, mas também dois idiomas – o Português e o Italiano. Como eu já possuia mais de vinte anos de experiência teatral e alguns pequenos textos escritos, resolvi aceitar o desafio e nos colocamos a trabalhar.

Cristina estudou o livro “Fábulas Italianas”, de Ítalo Calvino e propôs alguns contos. Nesse momento apareceu a nossa primeira divergência: ela preferia trabalhar com crianças e eu com adolescentes e adultos. Após muitas conversas chegamos a conclusão de que um espetáculo bilíngue seria um pouco difícil para crianças pequenas, então escolhemos dois contos do livro e criamos um roteiro infanto-juvenil que, na verdade, é uma diversão para todas as idades.

Com os textos escolhidos começamos a pensar em como faríamos para ligar as narrativas em um mesmo contexto. Sabíamos que uma personagem seria brasileira e a outra italiana, dessa forma as perguntas seriam: aonde e em que situação essas duas pessoas se encontrariam? A resposta veio logo: no navio que trouxe os imigrantes! E nesse momento surgiu uma grande ideia, a de unir mais duas linguagens: dois períodos históricos – a imigrante de 1875 e a turista dos dias atuais.

Eu criei o roteiro base, a estrutura do texto, e começamos a ensaiar. A cada ensaio Cristina trazia uma proposta nova, uma reflexão e uma piada ou brincadeira. Dessa forma o roteiro foi se modificando, incrementando, enriquecendo com as ideias e inspirações de ambas as atrizes.

Cristina Lopes e Claudia Venturi, em nossa estreia na sede do
 Círculo Artístico Teodora, no Campeche - Florianópolis.
- foto de Sergio Aspar - 2013
Quando a estrutura estava encaminhada, chamamos a atriz Margarida Baird para dirigir o espetáculo. Margarida foi a minha primeira professora de teatro, lá nos anos 1980, e também dirigiu os meus primeiros espetáculos teatrais. Atualmente, após muitas indas e vindas, ainda trabalhamos juntas na diretoria do Círculo Artístico Teodora. Quanto ao Paulo Wolf, ele fazia parte da equipe operacional do grupo e estava sempre por perto, dessa forma acompanhou o processo desde o início, conquistando o posto de Assistente de Direção, além de ser o técnico do espetáculo e fazer toda a parte de criação gráfica. Os dois juntos ajudaram a limpar e organizar as cenas, fazendo com que nascesse esse belo espetáculo de um grande trabalho em equipe. Até mesmo o cenário, em todas as suas versões, foi resultado dessa múltipla colaboração.

Na ideia original gostaríamos também de unir vários sentidos que normalmente não são utilizados no teatro, como o olfato e o paladar. Queríamos que, a um certo momento, o público sentisse o aroma do café sendo preparado. Infelizmente os nossos testes não foram satisfatórios e tivemos que abandonar essa proposta. Mas o paladar... nem me lembro mais de quem foi a ideia de servirmos polenta para o público, no final do espetáculo. Porém fiquei preocupada porque não teríamos tempo para aquecê-la durante a história e polenta fria não seria muito bom. Lembrei-me, então, de que a minha irmã havia comentado de uma amiga que comia polenta doce. Fui direto na fonte e pesquisei receitas italianas de polenta doce. Encontrei uma que parecia interessante, fiz algumas pequenas adaptações para adequá-la ao paladar brasileiro e, felizmente, conseguimos agradar ao público e as nossas expectativas.

Gostaríamos de música e dança. A Cristina propôs uma música do cantorio popular de Florianópolis, Maria vem ver a Lua, e eu me responsabilizei pela dança. Como eu já havia dançado em um grupo de folclore italiano, conhecia algumas danças típicas, como a tarantela. Porém tinha visto, em um clip do cantor Eugenio Bennato, uma dança muito alegre eque eu ainda não conhecia, a pizzica. Pesquisei e encontrei uma canção "salentina" que achei muito legal, Lu Core Meu. Também encontrei uma detalhada aula de pizzica - a dança. Como eu já tinha noções de danças folclóricas italianas, foi fácil começar a desenvolver o treinamento.

Cristina Lopes e Claudia Venturi
- foto Henrique Beling - 2014 - SESC Lages

Para os acabamentos finais escolhemos alguns trechos de músicas antigas que nos foram gentilmente cedidas pelo coral Stelle Alpine, da cidade de Orleans. Os belos figurinos foram idealizados e confeccionados por duas superprofissionais – Fernanda Jacobo e Iony Gabriel Vecchi que, com o apoio da Consenso, loja onde trabalhavam. Mas ainda estreiaríamos em nosso espaço que, na época, ainda não contava com estrutura técnica para a apresentação do espetáculo. Não possuíamos recursos de luz! Neste momento pedimos a ajuda do grande iluminador Ivo Godois que, generosamente, compartilhou e inspirou várias ideias criativas para a nossa luminosa estreia e fez o mapa de luz que utilizamos até hoje.

Estreiamos, ainda inseguras, na sede do Círculo Artístico Teodora, onde nos mantivemos em cartaz todos os domingos de julho e agosto de 2013, com o apoio de familiares e amigos que apareciam nos dias frios e chuvosos daquele inverno, para nos manter fortes e confiantes. E nesse momento ainda recebemos a preciosa colaboração de mais um grande amigo, Sérgio Aspar, que fez todo o registro fotográfico e de vídeo, que utilizamos.

Dois anos após a estreia diversas mudanças aconteceram, tanto na estrutura do espetáculo quanto no cenário. Viajamos por muitas cidades do estado e apresentamos para públicos de seis a noventa anos, tendo uma aceitação particularmente boa entre pessoas de origem italiana.

Versão atual do cenário - foto de Henrique Beling

LA BELLA POLENTA vai apresentar no dia 20 de outubro, às 14h30, na Casa Vermelha e no dia 22 de outubro, na mesma hora, em nossa sede no Campeche, pela mostra paralela que será realizada junto ao Floripa Teatro - Festival Isnard Azevedo. 

Confira abaixo o endereço dos espaços:

Círculo Artístico Teodora – Servidão Cravo Branco, 236 – Campeche – Florianópolis SC – Telefone (48) 3304-0966


Casa Vermelha - Rua Conselheiro Mafra, 590. Centro – Florianópolis SC - Telefone (48) 3209.8312



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