La Bella Polenta – Ideia e Processo
por Claudia Venturi
Nosso Cartaz, na versão com ficha técnica, belamente elaborado por Paulo Wolf. |
Muitas
vezes ficamos curiosos para compreender de onde surgiu uma ideia,
como foi determinado processo de montagem e assim por diante.
O
Círculo Artístico Teodora apresentará três de seus espetáculos
no mês de outubro – dois antigos e uma estreia – então
resolvemos aproveitar a ocasião para falar sobre os processos de
montagem, iniciando por LA BELLA POLENTA.
Cristina Lopes - Foto de Paulo Wolf - 2013 |
A
ideia do espetáculo surgiu com Cristina Lopes, ainda em 2010, que
entrou em contato comigo. Começamos a amadurecer a ideia e, juntas,
criamos essa deliciosa aventura Ítalo Brasileira, que estreiou 3
anos após o primeiro contato.
Cristina,
narradora oral que trabalhou muito pelos palcos do Brasil, também como atriz e bonequeira, lembra com carinho como
teve a ideia que deu origem a esse encontro bi cultural:
“Então,
por uma surpresa do destino, encontrei uma moça que tinha chegado da
Itália recentemente e pensei nas lindas historias recolhidas pelo
grande escritor Italo Calvino, contos estes que me encantavam há
muito tempo... Na hora me veio a vontade de criar um espetáculo
bilíngue que pudesse viajar por muitos lugares, recuperando vínculos
e memórias. De repente a moça que encontrei, grande atriz
talentosa, pensou que poderíamos viajar também no tempo...”
Claudia Venturi - Foto Paulo Wolf - 2013 |
No
momento eu tinha recém retornado da Itália, país no qual estudei e
residi por dois anos, e estava me readaptando ao ritmo cultural da
cidade. Conheci Cristina em um projeto de oficinas de arte no
interior do estado, promovido pela Fundação Catarinense de Cultura
e tivemos oportunidade de conversar bastante, entre uma viagem e
outra. A proposta era a de criar um espetáculo que unisse duas
linguagens – as narrativas orais e o teatro, mas também dois
idiomas – o Português e o Italiano. Como eu já possuia mais de
vinte anos de experiência teatral e alguns pequenos textos escritos,
resolvi aceitar o desafio e nos colocamos a trabalhar.
Cristina
estudou o livro “Fábulas Italianas”, de Ítalo Calvino e propôs
alguns contos. Nesse momento apareceu a nossa primeira divergência:
ela preferia trabalhar com crianças e eu com adolescentes e adultos.
Após muitas conversas chegamos a conclusão de que um espetáculo
bilíngue seria um pouco difícil para crianças pequenas, então
escolhemos dois contos do livro e criamos um roteiro infanto-juvenil
que, na verdade, é uma diversão para todas as idades.
Com
os textos escolhidos começamos a pensar em como faríamos para ligar
as narrativas em um mesmo contexto. Sabíamos que uma personagem
seria brasileira e a outra italiana, dessa forma as perguntas seriam:
aonde e em que situação essas duas pessoas se encontrariam? A
resposta veio logo: no navio que trouxe os imigrantes! E nesse
momento surgiu uma grande ideia, a de unir mais duas linguagens: dois
períodos históricos – a imigrante de 1875 e a turista dos dias
atuais.
Eu
criei o roteiro base, a estrutura do texto, e começamos a ensaiar. A
cada ensaio Cristina trazia uma proposta nova, uma reflexão e uma
piada ou brincadeira. Dessa forma o roteiro foi se modificando,
incrementando, enriquecendo com as ideias e inspirações de ambas as
atrizes.
Cristina Lopes e Claudia Venturi, em nossa estreia na sede do Círculo Artístico Teodora, no Campeche - Florianópolis. - foto de Sergio Aspar - 2013 |
Quando
a estrutura estava encaminhada, chamamos a atriz Margarida Baird para
dirigir o espetáculo. Margarida foi a minha primeira professora de
teatro, lá nos anos 1980, e também dirigiu os meus primeiros
espetáculos teatrais. Atualmente, após muitas indas e vindas, ainda
trabalhamos juntas na diretoria do Círculo Artístico Teodora.
Quanto ao Paulo Wolf, ele fazia parte da equipe operacional do grupo
e estava sempre por perto, dessa forma acompanhou o processo desde o
início, conquistando o posto de Assistente de Direção, além de
ser o técnico do espetáculo e fazer toda a parte de criação
gráfica. Os dois juntos ajudaram a limpar e organizar as cenas,
fazendo com que nascesse esse belo espetáculo de um grande trabalho
em equipe. Até mesmo o cenário, em todas as suas versões, foi resultado dessa múltipla
colaboração.
Na
ideia original gostaríamos também de unir vários sentidos que
normalmente não são utilizados no teatro, como o olfato e o
paladar. Queríamos que, a um certo momento, o público sentisse o
aroma do café sendo preparado. Infelizmente os nossos testes não
foram satisfatórios e tivemos que abandonar essa proposta. Mas o
paladar... nem me lembro mais de quem foi a ideia de servirmos
polenta para o público, no final do espetáculo. Porém fiquei
preocupada porque não teríamos tempo para aquecê-la durante a
história e polenta fria não seria muito bom. Lembrei-me, então, de
que a minha irmã havia comentado de uma amiga que comia polenta
doce. Fui direto na fonte e pesquisei receitas italianas de polenta
doce. Encontrei uma que parecia interessante, fiz algumas pequenas
adaptações para adequá-la ao paladar brasileiro e, felizmente,
conseguimos agradar ao público e as nossas expectativas.
Gostaríamos de música e dança. A Cristina propôs uma música do cantorio popular de Florianópolis, Maria vem ver a Lua, e eu me responsabilizei pela dança. Como eu já havia dançado em um grupo de folclore italiano, conhecia algumas danças típicas, como a tarantela. Porém tinha visto, em um clip do cantor Eugenio Bennato, uma dança muito alegre eque eu ainda não conhecia, a pizzica. Pesquisei e encontrei uma canção "salentina" que achei muito legal, Lu Core Meu. Também encontrei uma detalhada aula de pizzica - a dança. Como eu já tinha noções de danças folclóricas italianas, foi fácil começar a desenvolver o treinamento.
Gostaríamos de música e dança. A Cristina propôs uma música do cantorio popular de Florianópolis, Maria vem ver a Lua, e eu me responsabilizei pela dança. Como eu já havia dançado em um grupo de folclore italiano, conhecia algumas danças típicas, como a tarantela. Porém tinha visto, em um clip do cantor Eugenio Bennato, uma dança muito alegre eque eu ainda não conhecia, a pizzica. Pesquisei e encontrei uma canção "salentina" que achei muito legal, Lu Core Meu. Também encontrei uma detalhada aula de pizzica - a dança. Como eu já tinha noções de danças folclóricas italianas, foi fácil começar a desenvolver o treinamento.
Cristina Lopes e Claudia Venturi - foto Henrique Beling - 2014 - SESC Lages |
Para
os acabamentos finais escolhemos alguns trechos de músicas antigas
que nos foram gentilmente cedidas pelo coral Stelle Alpine, da cidade
de Orleans. Os belos figurinos foram idealizados e confeccionados por duas
superprofissionais – Fernanda Jacobo e Iony Gabriel Vecchi que, com
o apoio da Consenso, loja onde trabalhavam. Mas ainda estreiaríamos em nosso
espaço que, na época, ainda não contava com estrutura técnica
para a apresentação do espetáculo. Não possuíamos recursos de
luz! Neste momento pedimos a ajuda do grande iluminador Ivo Godois que, generosamente, compartilhou e inspirou várias ideias criativas para a nossa
luminosa estreia e fez o mapa de luz que utilizamos até hoje.
Estreiamos,
ainda inseguras, na sede do Círculo Artístico Teodora, onde nos
mantivemos em cartaz todos os domingos de julho e agosto de 2013, com
o apoio de familiares e amigos que apareciam nos dias frios e
chuvosos daquele inverno, para nos manter fortes e confiantes. E
nesse momento ainda recebemos a preciosa colaboração de mais um grande
amigo, Sérgio Aspar, que fez todo o registro fotográfico e de
vídeo, que utilizamos.
Dois
anos após a estreia diversas mudanças aconteceram, tanto na
estrutura do espetáculo quanto no cenário. Viajamos por muitas
cidades do estado e apresentamos para públicos de seis a noventa
anos, tendo uma aceitação particularmente boa entre pessoas de
origem italiana.
Versão atual do cenário - foto de Henrique Beling |
LA
BELLA POLENTA vai apresentar no dia 20 de outubro, às 14h30, na Casa
Vermelha e no dia 22 de outubro, na mesma hora, em nossa sede no
Campeche, pela mostra paralela que será realizada junto ao Floripa Teatro - Festival Isnard Azevedo.
Confira abaixo o endereço dos espaços:
Círculo
Artístico Teodora – Servidão Cravo Branco, 236 – Campeche –
Florianópolis SC – Telefone (48) 3304-0966
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