Em 24 de março o grande
artista e Nobel de literatura, Dario Fo, completou 90 anos. Em sua homenagem
fizemos uma compilação de dois textos sobre as comemorações, publicados na
mídia italiana e traduzidos por Claudia Venturi, especialmente para o nosso
blog.
Os textos são:
Milão festeja o nobel - Dario Fo: noventa anos com a
gargalhada
De 24 de março de2016, por Ira Rubini em: http://www.radiopopolare.it/2016/03/dario-fo-novantanni-con-lo-sghignazzo/
Dario Fo: o grande Mestre completa 90 anos
De 23 de março de 2016, por Federica D'Alfonso, em http://www.fanpage.it/dario-fo-il-grande-maestro-compie-90-anni/
MILÃO - Dario Fo completa noventa anos
e Milão festeja com uma noite ao Piccolo Teatro Studio Melato (transmitida ao vido pela Radio Popolare),
após o lançamento de seu último livro, Dario e Dio, e a
inauguração em Verona do MusaLab, com as relíquias de uma vida
de espetáculo junto a Franca Rame.
“Tenho pouco tempo pela
frente e ainda tantas coisas para dizer”, nos confidenciou o Nobel em sua casa
estúdio milanês, enquanto selecionava os últimos repertos para enviar ao museu veronense.
Noventa anos vividos ensinando o compromisso, a paixão artística,
o riso desenfreado, antídoto popular aos abusos do poder e às convenções das
pessoas de bem.
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"Temo o gratuito, aquilo
que, isto é, é oferecido por si mesmo, como deleite pessoal ou de fantasia
intelectual e eu também, a seu tempo, cedi a esta tentação, mas me afastei
súbito porque me dei conta de que se permanecesse naquele caminho não apenas
não teria progredido teatralmente, assim como teria ido contra o meu modo de
sentir e de ver o público. (...) Sempre coloquei como objetivo para mim a
aproximação do público".Assim falava Dario Fo em uma entrevista dada para “Teatro per molti, teatro per pochi”, em
1967. De fato a sua relação com o público nunca foi interrompida, até mesmo
hoje, dia em que o Prêmio Nobel festeja os seus magníficos 90 anos.
Dario Fo está para
apagar a sua 90° velinha: uma vida para o teatro, para a literatura e para o
seu público. Prêmio Nobel em 1997, Fo foi e é o teatro: um teatro ilustre, que
ostenta inspiração obtida da Commedia
dell'arte e daquele mundo giullaresco[i]
do qual ele é, sem dúvida, o cantor mais fascinante e profundo. Ator, diretor,
escritor, cenógrafo, figurinista e empresário de sua própria companhia, Fo
contém dentro de si os inumeráveis trabalhos que o tiveram como protagonista, o
símbolo de um intelectual que, com força e ironia, sempre foi fiel a regra mais
importante do teatro: a verdade.
“A partir de mim
quiseram premiar as pessoas de teatro”
O de Dario Fo foi, sem
dúvida, prêmio mais inesperado e criticado da história do Nobel italiano. Em
1997 Fo recebe o prêmio "porque, seguindo a tradição dos giullari medievais, ele zombou do poder,
restituindo a dignidade aos oprimidos". A escolha de Fo, por parte da Academia
Sueca levou em consideração os muitos representantes da cultura italiana que, há
anos, patrocinavam a candidatura de Mario Luzi. Alguns consideraram nada menos
do que uma ofensa, e mesmo o próprio Luzi, entrevistado, afirmou: "Como
autor eu não o conheço".
Mas Dario Fo riu até
naquela ocasião, aceitando com infinita humildade o reconhecimento e presenteando
à Itália um pedaço inesquecível de história literária. Como sempre irônico,
Dario Fo dissolveu os ânimos contando de um episódio acontecido a noite da
premiação: “Se concluiu com o seco chamado a ordem, de minha mulher: "Quando
chegarmos em casa, te esbofetearei com um sonífero que te fará dormir por ao menos
dois dias. Anda, que a festa finalmente acabou".
“Mistero Buffo”, ontem
e hoje
Para nós, interpretar não é só um trabalho, mas é também
e, sobretudo, um divertimento que atinge o máximo do prazer quando conseguimos
criar novas situações e jogar aos ares as convenções e regras. Esperamos de
comunicá-los este nosso divertimento e de conseguir surpreendê-los, fazendo-os
rir e, talvez, pensar.
Em 1° de outubro de
1969, a La Spezia, Fo levou pela primeira
vez em cena, com grande sucesso, a "giullarata" Mistero Buffo: único ator em cena, interpretava uma fantasiosa reelaboração
de testos antigos em “grammelot”, uma linguagem feita de sons que imitam o
ritmo e a intonação de línguas reais, com intuitos claramente paródicos. Mistero Buffo, com o subtítulo “Giullarata popolare del 400”, se coloca
nos anos da contestação (1968-69) e assinala não apenas uma reviravolta na carreira
de Dario Fo e de Franca Rame, que abandonaram os circuitos teatrais convencionais
por uma companhia coletiva tornando-se imediatamente um marco no panorama do
teatro internacional. O mesmo título “Mistero
Buffo”, para o grande e continuo sucesso na Itália e no exterior, tornou-se
uma formula.
Imagem da internet - site fanpage |
E hoje, a distancia de
anos, mas com um sucesso nunca interrompido, Fo irá repropor em uma única data na
Itália, quinta-feira 16 de junho de 2016 na Cavea
dell’Auditorium Parco della Musica, “Mistero Buffo” e “la Storia della
tigre e altre storie”. Uma nova versão do espetáculo, junto a outros dois trechos
derivados da “Storia della tigre e altre storie”, de 1979.
Dario e a literatura
"Dario e Dio" por Guanda - Imagem da internet - site fanpage |
Em 17 de março foi
lançado, pela editora Guanda, “Dario e Dio”. Dario Fo sempre teve uma relação muito
particular com o sagrado, e instaurou com este um diálogo que nunca se
interrompeu desde a sua obra prima “Mistero buffo”: o sagrado, a Igreja e os
santos foram e permanecem não somente os seus adversários, mas os seus
interlocutores privilegiados. Do imenso patrimônio de testos oficiais e apócrifos,
da cultura popular, das artes visuais, desencadearam releituras personalíssimas
da Bíblia e dos Evangelhos, da figura de Maria, do relacionamento de Jesus com as
mulheres, da invenção da Igreja e de seus tantos mal feitos. Tudo isso com
ironia provocatória, nunca blasfema ou desrespeitosa.
E agora, com 90 anos,
Dario Fo decide concluir a sua longa e aventurosa exploração nos misterios mais
ou menos buffos da fé e da religiosidade.
Junto a Giuseppina Manin, jornalista da página dos Espetáculos do Corriere della Sera, se diverte prestando
as contas, ao seu modo, com Deus e aquilo que dele resulta: do Gênesis ao Apocalipse,
do Inferno ao Paraíso, do Reino dos Céus àquele dos homens.
Irônico e provocatório
Fo, em seu livro, convida a refletir, ao seu modo, sobre as contradições deste
Deus: "Cria um filho e imediatamente o trata mal, exige que o obedeça após
ter declarado que existe o livre arbítrio. Expulsa-o do Paraíso e o adverte que
sofrerá, sofrerá a fome, a sede. Terá por fim uma vida de m… Mas por que o criou
então, se já sabia de tudo?" grita Fo. E depois reflete: "Da Inquisição
ao Isis… A lógica é a mesma: eu estou no lado justo, eu tenho a verdade, e você
não. E então para evitar a propagação de heresias, de pontos de vista dissidentes,
se acendem fogueiras, se cortam gargantas, se plantam bombas. Sempre em nome de
Deus, se pretende".
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No último 14 de janeiro
foi lançado, editado na coleção "Narrazioni" da Chiarelettere, "Razza di zingaro": Fo se exercita com a trágica
história do pugilista Johann Trollmann, campeão de origem sinti[ii], perseguido na Alemanha
nazista.
O livro percorre a história
esquecida de "Rukelie", nascido na Baixa Saxônia em 1907 de uma familia
da etnia sinti: por causa das suas
origens, é perseguido pelo regime e constrangido a se divorciar da mulher e a esterilização
e, enfim, é fechado no campo de concentração de Neuengamme, aonde morre em fevereiro
de 43. Para Chiarelettere, além de
“Razza di zingaro”, Fo publicou também “Nuovo manuale minimo dell'attore”,
pensado por Dario Fo com a esposa Franca Rame, “Un uomo bruciato vivo”, “C'è un
re pazzo in Danimarca”, “La figlia del papa” e “Il Grillo canta sempre al
tramonto”.
Dario Fo fala, neste vídeo, sobre os seus 90 anos: "Não temo a morte, o meu lema é fazer rir!"
[i]
Giullaresco, de Giullare(i), nome dado ao antigo artista polivalente que deu
origem aos bobos da corte, artistas capazes de interpretar uma série de
personagens e situações sem necessitar trocar de figurino ou adereços. Também
traduzido como jogral.
[ii] Os
Sinti são uma das etnias que compõe a
população romani, também chamadas ciganos, termo que hoje tem uma
característica depreciativa.
VgastscarPoco Deanna Harris https://wakelet.com/wake/_6mZhXyJn78f9EDH5fTd7
ResponderExcluirsetzmenrocyc
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ResponderExcluirFonePaw
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