A Chanchada Brasileira Herdeira da "Commedia
Dell'Arte
Por Bemvindo Sequeira, extraído do blog:
http://blogdobemvindo.blogspot.com.br/
O texto completo pode ser encontrado no livro “Humor,
Graça e Comédia”.
Bemvindo Sequeira é ator, humorista, autor e
diretor de teatro, cinema e televisão brasileiro.
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Não existe no Brasil a História do Riso. Quase não
há livros. Pouquíssimas e muitas vezes inacessíveis teses. Não se o discute.
Como se rir fosse simples. De fato, o é. Mas, os intelectuais, afastados do
povo e da massa, não podem se permitir o simples. Confundem-no com o grosseiro,
têm medo do Novo Mundo: abacaxis, bananas, mangas, feijoadas e grandes bundas –
grandes seios -, grandes falos. Não podem se permitir ao riso alto e sonoro de
um populacho que ri liberto porque sabe que “não existe pecado do lado de baixo
do Equador”... o lado de baixo... o lado de um Paraíso Tropical e Latino. Um
Paraíso de Mazzaropis, Oscaritos, Grandes Otelos, Aldas Garridos, Trapalhões,
Carequinhas e Chico Anysios. Um paraíso onde o Riso é a própria voz de Eros
negando poder a Tanatos – este Tanatos que é a Morte que habita nas profunezas,
o algoz o Inconsciente mais profundo: Tanatos que envia suas fúrias para
combater Eros, sob a forma de críticos sisudos, intelectuais limitados, para
castrarem o falo erótico do Inconsciente libertado.
Mazzaropi - foto TV Aparecida - http://www.a12.com/ |
Foram necessárias décadas de distanciamento para
que os intelectuais e os críticos descobrissem o valor das chanchadas para a
cultura nacional, bem como de uma personagem como o Chacrinha, na TV. Foi
preciso que estas formas de comédia já não oferecessem mais perigo ao
surgimento e estabelecimento de outras formas exógenas de teatro e TV para que
fossem aceitas nos compêndios culturais.
Grande Otelo e Oscarito - foto do acervo O Globo |
Passamos de um divertimento de uma sociedade mais
simples para as exigências de uma economia e consequente sociedade, mais
complexa, com novos mercados consumidores e novo público alvo que exigia estar
mais consoante com os novos modelos europeus e pouco com o modelo norte
americano.
Ainda assim o riso não morreu nas nossas telas,
pequenas ou grandes. Ajustou-se aos novos tempos e a novos comediantes como se
nunca antes houvera outros.
Alda Garrido - foto http://nelsontangerini.blogspot.com.br/ |
Riso, voz de Eros. O riso ladino e latino da
Commedia Dell’Arte. Erótico, pleno de clisteres, falos, bundas e sensualidade,
e por isto mesmo: agressivo.
Riso solto que a elite associa como sinônimo de
sujo, nojento, porcaria, vulgar, chulo, devasso, fácil, escravo, pobre,
proletário e tantas outras classificações que visam, mais uma vez excluir
segmentos grandes da população.
Chacrinha - foto Adoro Cinema |
Apesar deles, a vida prossegue. A História do Homem
não é a História da sua repressão, mas sim a História do seu Riso.
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