sábado, 9 de julho de 2016

A Chanchada Brasileira Herdeira da "Commedia Dell'Arte

A Chanchada Brasileira Herdeira da "Commedia Dell'Arte

Por Bemvindo Sequeira, extraído do blog:
http://blogdobemvindo.blogspot.com.br/
O texto completo pode ser encontrado no livro “Humor, Graça e Comédia”.

Bemvino Sequeira - foto UOL



Bemvindo Sequeira é ator, humorista, autor e diretor de teatro, cinema e televisão brasileiro.






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Não existe no Brasil a História do Riso. Quase não há livros. Pouquíssimas e muitas vezes inacessíveis teses. Não se o discute. Como se rir fosse simples. De fato, o é. Mas, os intelectuais, afastados do povo e da massa, não podem se permitir o simples. Confundem-no com o grosseiro, têm medo do Novo Mundo: abacaxis, bananas, mangas, feijoadas e grandes bundas – grandes seios -, grandes falos. Não podem se permitir ao riso alto e sonoro de um populacho que ri liberto porque sabe que “não existe pecado do lado de baixo do Equador”... o lado de baixo... o lado de um Paraíso Tropical e Latino. Um Paraíso de Mazzaropis, Oscaritos, Grandes Otelos, Aldas Garridos, Trapalhões, Carequinhas e Chico Anysios. Um paraíso onde o Riso é a própria voz de Eros negando poder a Tanatos – este Tanatos que é a Morte que habita nas profunezas, o algoz o Inconsciente mais profundo: Tanatos que envia suas fúrias para combater Eros, sob a forma de críticos sisudos, intelectuais limitados, para castrarem o falo erótico do Inconsciente libertado.

Mazzaropi - foto TV Aparecida - http://www.a12.com/

Foram necessárias décadas de distanciamento para que os intelectuais e os críticos descobrissem o valor das chanchadas para a cultura nacional, bem como de uma personagem como o Chacrinha, na TV. Foi preciso que estas formas de comédia já não oferecessem mais perigo ao surgimento e estabelecimento de outras formas exógenas de teatro e TV para que fossem aceitas nos compêndios culturais.

Grande Otelo e Oscarito - foto do acervo O Globo

Passamos de um divertimento de uma sociedade mais simples para as exigências de uma economia e consequente sociedade, mais complexa, com novos mercados consumidores e novo público alvo que exigia estar mais consoante com os novos modelos europeus e pouco com o modelo norte americano.
Ainda assim o riso não morreu nas nossas telas, pequenas ou grandes. Ajustou-se aos novos tempos e a novos comediantes como se nunca antes houvera outros.

Alda Garrido - foto http://nelsontangerini.blogspot.com.br/

Riso, voz de Eros. O riso ladino e latino da Commedia Dell’Arte. Erótico, pleno de clisteres, falos, bundas e sensualidade, e por isto mesmo: agressivo.
Riso solto que a elite associa como sinônimo de sujo, nojento, porcaria, vulgar, chulo, devasso, fácil, escravo, pobre, proletário e tantas outras classificações que visam, mais uma vez excluir segmentos grandes da população.

Chacrinha - foto Adoro Cinema

Apesar deles, a vida prossegue. A História do Homem não é a História da sua repressão, mas sim a História do seu Riso.

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